O Presidente Volodymyr Zelensky disse que considera substituir muitos dos líderes da Ucrânia, incluindo o chefe das forças armadas, para “reiniciar” o caminho do país quase dois anos desde a invasão russa em grande escala.
Numa entrevista ao meio de comunicação italiano RAI publicada no domingo, Zelensky disse que “é necessário um novo começo” e que tem “algo sério em mente, que não diz respeito a uma única pessoa, mas à direção da liderança do país”.
“Quando falamos sobre isto, quero dizer uma substituição de uma série de líderes estatais, não apenas num único setor como o militar”, disse Zelensky à RAI.
Zelensky não esclareceu quem seria substituído, mas seus comentários surgem em meio a especulações sobre o futuro do chefe do Exército Valerii Zaluzhnyi. As diferenças entre os dois homens estão latentes há muitos meses, mas parecem ter aumentado no final do ano passado.
Em Novembro, Zaluzhnyi se referiu à situação no campo de batalha como um “impasse”, atraindo duras críticas do vice-chefe do gabinete do presidente, que disse que tais comentários sobre a guerra só beneficiaram a Rússia.
Mais recentemente, os dois líderes entraram em conflito sobre se a Ucrânia precisava de um esforço de mobilização em massa. O chefe do exército sugeriu que seria necessária a convocação de até meio milhão de soldados adicionais, ao que Zelensky resistiu.Os ganhos de Kiev, no entanto, foram modestos e essa falta de progresso levou a um apelo de Zaluzhnyi e das forças armadas, no final de Dezembro, para um enorme esforço de mobilização de novos recrutas. O pedido está atualmente no parlamento.
Com a aproximação do aniversário de dois anos da guerra, a Ucrânia enfrenta dificuldades em diversas frentes para manter o seu esforço de guerra em andamento. As tropas russas estão desgastabdo as forças ucranianas na linha da frente, que se encontram na defensiva, e com o esgotamento dos carregamentos de armas ocidentais e da ajuda externa, os soldados de Kiev estão cada vez em menor número e também com menos armas.
Embora a União Europeia tenha aprovado recentemente 50 bilhões de dólares em ajuda a Kiev, os fundos de Washington estão presos em um Congresso paralisado, com muitos republicanos se alinhando com as opiniões isolacionistas do ex-Presidente Donald Trump, o favorito à indicação presidencial do partido.
Em um artigo exclusivo para a CNN, publicado na semana passada, enquanto as notícias giravam em torno da sua esperada saída, Zaluzhnyi reconheceu que a Ucrânia deve se adaptar a uma redução na ajuda militar dos seus principais aliados, uma vez que estes estão “lutando com as suas próprias tensões políticas”. Ele observou também que os desenvolvimentos no Oriente Médio desde outubro atraíram a atenção internacional em outros países.
A matéria também caracteriza a situação como uma guerra de posição – definida pelo desgaste e pela falta de movimento no campo de batalha – que equivale ao reconhecimento de que a contraofensiva ucraniana estaria efetivamente terminada.
No entanto, não faz referência à sua relação com o presidente.
A expectativa é que Zelensky anuncie a demissão de Zalzhnyi nos próximos dias, embora o porta-voz presidencial Serhiy Nykyforov tenha dito à CNN e a outros meios de comunicação na semana passada que os rumores sobre a demissão iminente do chefe do Exército eram falsos.
Zelensky já substituiu o seu ministro da Defesa e vários oficiais da Defesa, mas a saída de Zalzhnyi marcaria a maior mudança militar desde a invasão russa em fevereiro de 2022.
A destituição de Zalzhnyi também seria uma medida politicamente arriscada para Zelensky, dada a imensa popularidade do general que sobreviveu ao fracasso da contraofensiva. Uma pesquisa publicada pelo Instituto de Sociologia de Kiev em dezembro revelou que 88% dos ucranianos apoiavam o chefe do exército, em comparação com 62% do Presidente.
A pesquisa foi realizada depois que diferenças entre os dois líderes aparentemente foram reveladas sobre o andamento da guerra.