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O encontro surpresa entre Xi Jinping e Henry Kissinger enquanto EUA tentam se reaproximar da China

O presidente chinês, Xi Jinping, deu boas-vindas calorosas ao ex-diplomata americano Henry Kissinger, de 100 anos, enquanto os Estados Unidos buscam laços mais estreitos com a China.

A viagem surpresa de Kissinger a Pequim ocorre em meio a uma série de visitas de funcionários do alto escalão dos EUA à China.

O ex-secretário de Estado desempenhou um papel crucial em ajudar a China a sair do isolamento diplomático na década de 1970, mas segue sendo uma figura controversa no restante da Ásia por seu papel na Guerra do Vietnã.

Os EUA enfatizaram que ele está visitando a China na qualidade de cidadão comum.

Mas, dada sua estatura descomunal na China, ele poderia atuar como um canal de apoio para as negociações EUA-China.

A televisão estatal mostrou Xi sorrindo ao dizer a Kissinger: “Estou muito feliz em vê-lo, senhor”.

Eles se encontraram na casa de hospédes estatal Diaoyutai, um local mais íntimo do que o amplo Grande Salão do Povo, onde geralmente acontecem reuniões oficiais com diplomatas estrangeiros.

Diaoyutai também foi o lugar onde, meio século atrás, Kissinger se encontrou com autoridades chinesas em uma visita secreta que ajudou a iniciar a normalização dos laços EUA-China, observou Xi.

“Nunca esqueceremos nossos velhos amigos e não esqueceremos suas contribuições históricas para desenvolver as relações EUA-China e a amizade entre os dois povos”, acrescentou.

O tom afetuoso de Xi refletiu a mensagem conciliatória de outros altos funcionários que se encontraram com Kissinger depois que ele pousou em Pequim na segunda-feira (17/7).

As declarações do governo chinês sobre as reuniões de Kissinger com o diplomata Wang Yi e o ministro da Defesa, Li Shangfu, enfatizaram a necessidade de respeito, cooperação e “coexistência pacífica” entre as duas superpotências.

Também citaram Kissinger dizendo que ele era um “amigo da China”, que “nem os Estados Unidos nem a China podem se dar ao luxo de tratar o outro como um adversário” e que suas relações seriam “centrais para a paz no mundo e para o progresso da nossa sociedade”.

A mídia estatal chinesa fez uma cobertura elogiosa à visita de Kissinger, enquanto nas redes sociais muitos se maravilharam com a resiliência de Kissinger, discutindo sua viagem com a hashtag do Weibo “Kissinger ainda pode voar para Pequim para uma viagem de negócios, apesar de ter 100 anos”.

Mas alguns usuários também lamentaram que os EUA estivessem enviando pessoas centenárias para promover laços.

“Há cada vez menos políticos com grande sabedoria”, disse um usuário.

Um porta-voz do Departamento de Estado disse no início desta semana que o governo americano estava ciente da viagem de Kissinger.

Mas os EUA também enfatizaram que ele estava lá “por sua própria vontade” e não em nome do governo dos EUA.

Como cidadão comum, Kissinger pode ser mais franco em suas discussões com Xi e outras autoridades, dando-lhe mais margem de manobra para apresentar as preocupações e demandas dos EUA.

Também é menos controverso para ele encontrar figuras como o ministro da Defesa, Li Shangfu Li, que está sob sanções dos EUA desde 2018 por comprar armas da Rússia.

No mês passado, Pequim se recusou a permitir que Li se encontrasse com seu homólogo americano, Lloyd Austin, em um fórum em Cingapura, citando as sanções.

Pode ser uma pequena surpresa que Kissinger tenha decidido resolver o problema por conta própria com sua visita.

Em uma entrevista em dezembro, o diplomata americano criticou o posicionamento dos governos Trump e Biden sobre a China.

Segundo ele, o atual governo dos EUA está tentando um diálogo que “geralmente começa com uma declaração de iniquidades chinesas” e que as discussões foram “impedidas”.

Embora Kissinger não seja um estranho à China — ele a visitou o país mais de cem vezes e se encontrou com Xi pela última vez em 2019 —, esta viagem representa um ponto de inflexão nas relações EUA-China.

Depois de meses de hostilidade exacerbada pelo incidente do balão espião deste ano, as negociações diplomáticas parecem estar de volta aos trilhos — a China recebeu uma série de altos funcionários dos EUA em algumas semanas.

Além do secretário de Estado, Antony Blinken, que visitou o país no mês passado, Kissinger é a única figura americana que Xi encontrou nas últimas semanas — uma medida do respeito que o diplomata veterano ainda tem na China.

A secretária do Tesouro, Janet Yellen, e o enviado especial dos EUA para o clima, John Kerry, também visitaram Pequim, mas não tiveram contato pessoal com o presidente da China.

Com sua recepção abertamente calorosa a Kissinger, Pequim sinalizou claramente que deseja mais envolvimento dos EUA.

O diplomata chin Wsang Yi disse que “a política dos EUA para a China precisa da sabedoria diplomática de Kissinger e da coragem política de Nixon (Richard Nixon, ex-presidente americano)”.

Mas isso não mudará o fato de que a China, no final, manterá suas prioridades, disse Wen-ti Sung, cientista político da Universidade Nacional da Austrália, em Canberra.

“Pequim pode potencialmente considerar fazer gestos simbólicos de boa vontade após a viagem de Kissinger, tanto como um agradecimento a seu amigo quanto para dar musculatura à posição dele”, disse ele à BBC.

“Mas não espere que isso mude significativamente os fundamentos que impulsionam as relações EUA-China, que serão governadas não por considerações individuais, mas pelo que Pequim vê como seus próprios interesses nacionais.”

Embora Kissinger tenha uma reputação controversa em outras partes da Ásia por seu papel na Guerra do Vietnã, na China ele continua sendo altamente apreciado por ajudar no reengajamento do país com o mundo.

Em 1971, quando os EUA e a China não tinham laços oficiais, Kissinger fez visitas clandestinas a Pequim para organizar uma viagem do então presidente dos EUA, Richard Nixon.

No ano seguinte, Nixon desembarcou em solo chinês e conheceu os principais líderes, incluindo Mao Tsé-Tung.

Isso abriu caminho para a normalização das relações diplomáticas EUA-China e a abertura da economia chinesa.

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